terça-feira, maio 30, 2006 

5º Episódio: Objectivo, Ganhar a Pagaia Dourada!

- Pagaia, Pagaia, Pagaia.
- Faltam 100 m – Força.

Tais gritos de incentivo estremeceram todo o campo. Vinham claramente da tenda do Lampreia Sorridente, mas desta vez não era ele que gritava, era mesmo o Papagaio-do-Mar que ainda não tinha recuperado das emoções do dia anterior. O Lampreia não resistiu e apercebendo-se da cena cómica chamou a vizinhança da sua tenda. Sorrateiramente apareceram a Rita e a Clara e ainda os vizinhos da Nova Zelândia, Ed e Fred, que os leões haviam conhecido no Fogo de Conselho da noite anterior. Quando olharam para dentro da tenda, embora a dormir o Papagaio-do-Mar pagaiava vigorosamente, sentado, de saco cama enfiado até à cabeça e de lanterna em punho, continuava a incentivar:
- Força campeões, já estou a ver a pagaia a brilhar.
As brasileiras Piranha Florescente e Enguia Elegante quando espreitaram exclamaram logo:
- Oi?!! O papagaio endoidou mesmo, está remando na tenda dentro do saco de dormir.
Com as gargalhadas imediatas, o Bruno finalmente acordou e quando viu aquela multidão na porta da tenda pensou logo:

- Pronto. Já fiz palhaçada da boa para a plateia.
Claro foi que, quando o Papagaio viu que entre a multidão à porta da tenda estava a Enguia Elegante logo se compôs e disfarçou a cena hilariante que proporcionou a todos logo pela alvorada do grande dia. Era o dia da grande final da competição da Pagaia Dourada, o troféu que representava a verdadeira competição entre irmãos escutas, representava a Fraternidade, Autonomia e Alegria própria dos moços e moças em competição. Por isso todas as tripulações estavam ansiosas para que o relógio marcasse 17h00, mas ainda faltavam 9h para a buzina de partida e já todos pareciam ouvi-la. Nessa manhã, as seis tripulações finalistas da grande competição estiveram a cuidar dos seus equipamentos, coletes, canoas, pagaias. No Tejo, fizeram também o necessário aquecimento e combinaram tácticas para a grande final. Os Leões – Marinhos dedicaram especial atenção às pagaias, não fosse suceder de novo o mesmo contratempo da eliminatória e não houvesse agora sandálias resistentes; a propósito disso a Flamingo Audaz teve uma ideia:
- Leões, acho que devíamos colocar a sandália da Rita na proa da S.Jorge, ela representa toda a nossa motivação, a motivação que precisamos para a final.
- Boa ideia. – concordaram os Leões.
- É também uma homenagem a nossa remadora Pinguim Dorminhoca – acrescentou o Cavalo-Marinho.
E assim na proa da canoa S.Jorge ficou dignamente colocada a sandália da Rita que tanto jeito tinha dado para pagaiar na qualificação. A Rita, claro, é que iria descalça do pé esquerdo mas isso era um mal menor. Às 16h45 já as margens do rio estavam repletas de escuteiros marítimos ou terrestres, todos tinham vindo ver a grande final e apoiar a tripulação lusa. Mesmo junto ao cais via-se uma enorme faixa dizendo “ Pagaiar forte leões”, quem a segurava eram as flotilhas dos leões e seus pais, todos se tinham organizado para dar grande apoio nessa tarde. No rio, já se disponham milimétricamente alinhadas, brilhando ao sol seis canoas bem coloridas. As canoas das tripulações finalistas que durante três quilómetros disputariam a Pagaia Dourada. Todos os moços e moças já se preparavam nervosamente para entrar a bordo das embarcações. A primeira era a canoa Cólon, da tripulação Delfim da Espanha que se tinha apurado em terceiro lugar na qualificação dos Leões, nuestros hermanos já tinham demonstrado que tinham força suficiente para ganhar e além disso tinham um bom timoneiro o Toñito – Manta Sorrateira. A seguir estavam os escoceses da tripulação Loch Ness, como era tradição eles competiam de Kilt, aliás eles andavam sempre de kilt, o kilt devia ser como a sandália da Rita, representava o espírito e força de vontade da tripulação. Ao lado deles estavam os favoritos, pois tinham realizado o melhor tempo de todos, a tripulação Peixe-espada da Ucrânia e os sempre sorridentes Lagostim-Manso, Oleg, Irina e Svetelana a conhecida como Carpa irrequieta. Seguidamente, estavam os campeões e conhecidos de todos, a tripulação Cachalote do Canadá, claro está que o Pierre – Atum Perspicaz orientava todos com grande eficácia embora com o Barbo Calão e Roaz Trapalhão fosse sempre mais dura essa tarefa. Ao ladinho estavam os heróis da Leão-Marinho olhando para todos os lados observando os seus adversários. Por último, brilhava na água a canoa do Chile – San Tiago, a tripulação do Chile era composta por quatro moças, que tinham demonstrado grande empenho e motivação na qualificação, por pouco não ganhavam à Cachalote do Canadá, tal como o Lampreia Sorridente também a timoneira da tripulação Albatroz de seu nome Iria – Sardinha Calma, tinha ficado sem voz de tanto incentivar as moças da sua tripulação. Quebrando aquela azáfama ouviu-se agudamente um apito por duas vezes. Era a sinal para as tripulações embarcarem nas suas canoas e se prepararem, faltavam 5 minutos.
Pinguim Dorminhoca: Vamos lá Leões, vamos, vamos à conquista da Pagaia Dourada.
Papagaio-do-Mar: deixa cá ver se a pagaia está em ordem…..
Lampreia Sorridente: todos aos seus lugares.
Ouviu-se novamente um apito por duas vezes, faltava um minuto, na água por entre desejos de boa pesca entre as tripulações fez-se silêncio absoluto, nas margens parecia que todos tinham ficado congelados, todos esperavam pela buzina da partida para a final. Exactamente quando o relógio marcava 17h00 o Chefe Nacional accionou a buzina e quando um estrondoso FOOOMMMM !!!! quebrou aquele silêncio, surgiu no rio uma nuvem de salpicos de água, efeito das pagaiadas de arranque das tripulações. De imediato a Peixe-Espada ganhou um pequeno avanço sobre as demais, o Oleg e tripulação eram realmente fortes. Os Leões-Marinhos estavam concentradíssimos, todos a bom ritmo e de cara alegre embora fossem já em despique com os Espanhóis pelo quarto lugar. Poucos metros à frente as tripulações Cachalote e Loch Ness, batiam-se pelo segundo lugar arduamente e com caras feias, realmente Escoceses e Canadianos não eram muito fraternos entre si. Em último lugar mas com grande determinação estavam as Chilenas da tripulação Pinguim Imperador. Apesar destas pequenas distâncias entre as tripulações quando passaram o primeiro quilómetro ainda nada estava definido. Foi aí, nesse ponto, que a Leão-Marinho se apercebeu do que se passava imediatamente à sua frente:

Rita: Os cachalotes e os escoceses vão mesmo em grande disputa.
Papagaio: Estão mais concentrados em ver qual deles é melhor do que em ganhar a pagaia e o que ela representa.
Lampreia: Pessoal deixem lá o que se passa com os Cachalotes e os Escoceses, vamos é dar o nosso melhor, temos é que ultrapassa-los e alcançar os ucranianos da Peixe-Espada. Pagaiar forte vamos!!!
No entanto a rivalidade entre Cachalotes e Escoceses tinha levado a que as suas canoas ficassem demasiadamente perto da margem do rio e aquela velocidade, com pouca profundidade os perigos eram muitos. Tal rivalidade entre os Kilts e os Folhas de Plátano (como eram conhecidos os canadianos devido à sua bandeira) começara há muito tempo quando em duas edições seguidas da Pagaia Dourada em 1966 e 1970 surgiram entre eles peripécias invulgares. Em 1966 os Kilts haviam ganho o terceiro lugar aos Folhas de Plátano por escassos centímetros; por um azar inesperado dos Kilts pois a canoa começara a meter água em força a escassos 100 m da linha final, meteu tanta que ainda hoje está no fundo do Rio Oder na Polónia. Em 1970 foi a vez dos Folhas de Plátano ganharem o terceiro lugar porque o Kilt de um dos moços escoceses se embaralhara na pagaia e este além de ficar meio nu na canoa já não conseguira pagaiar nos últimos metros da competição. Ou seja sempre que as tripulações dos dois países estavam na mesma água recordavam esses pequenos azares dos seus antecessores, mas este ano ambas as tripulações estavam decididas a desempatar os terceiros lugares, parecia até que a conquista da Pagaia Dourada ficara para segundo objectivo.
- CUIDADO!!!! – gritou de repente a Clara.
- Cachalotes, vocês vão colidir…
Como os Leões-Marinhos vinham em bom ritmo, ao passarem pelos Cachalotes e pela Loch Ness, para conquistarem a segunda posição, avistaram que a estibordo da canoa do Canadá surgia da água, perto da margem, um ferro ferrugento que por causa do reflexo do sol na água ninguém vira. Quando os Kilts se aperceberam pararam logo de pagaiar, mas os Cachalotes, que não tinham ouvido o alerta da Flamingo Audaz, estranharam a atitude dos escoceses e gritou o timoneiro Atum Perspicaz para os Folhas de Plátano:
- Então desistem fracotes, vai ser para nós o segundo terceiro lugar.
A isto os Escoceses responderam num coro perfeito:
- STOP, STOP, STOP.
- Vão colidir, vão colidir……
De imediato os Canadianos enterraram imóveis as suas pagaias na água do rio, mas quando olharam para estibordo era tarde demais, o ferro estava aí a dois centímetros da canoa e foi a rasgar a canoa desde a proa até meio, só parou porque encontrou o banco do Barbo Calão, ferindo-o na coxa. De imediato a canoa dos Cachalotes, mais uma vez, começava a meter água, o pior era que devido à sua habitual distracção o Barbo Calão se esquecera de apertar o colete de salvação e ainda para mais ferido na perna teria dificuldade para se manter à tona. Vendo isto, quer as tripulações Loch Ness quer a Leão-Marinho foram de imediato em socorro dos Canadianos, para além do Barbo estar ferido, o timoneiro Atum Perspicaz tinha ficado inconsciente pois na confusão tinha levado com a pagaia na nuca e estava a deriva no rio com muito má cara. Enquanto os Escoceses se atiraram de imediato ao Barbo tentando trazer aquele peso-pesado para terra, o resto dos Canadianos chegavam à margem exaustos e preocupados. Os Leões-Marinhos atiraram-se de imediato ao resgate do Atum Perspicaz, mantendo-se na S. Jorge arrastaram pela água o Pierre pelo colete com a cabeça virada para cima e enquanto o Papagaio-do-Mar o segurava, os restantes pagaiavam até à margem. Entretanto e não se apercebendo da gravidade do ocorrido passavam as tripulações Delfim da Espanha e as Chilenas da Pinguim-Imperador em forte disputa, não sabiam que já só eles e os Ucranianos poderiam conquistar a Pagaia. Claro que a Pagaia Dourada neste momento estava longe das cabeças daquelas três tripulações, o que interessava agora era socorrer o Barbo e o Atum até chegarem os Serviços de Emergência. Chegados a terra os Leões colocaram logo o Atum em Posição Lateral de Segurança e cobriram-no com os seus coletes e algumas ramagens que por ali se encontravam. Ao mesmo tempo chamavam-no de modo a tentar desperta-lo; passados breves segundos e quando já se via as lâmpadas azuis da ambulância Pierre – Atum Perspicaz recuperou os sentidos vendo sobre ele quatro cabeças de leão que suspiravam de alívio. O Barbo Calão: que também tinha sido socorrido com sucesso pelos Kilts, enquanto entrava na ambulância chamou o timoneiro dos Kilts – Lawson e o Lampreia e disse-lhes:
- Nunca vou esquecer este dia – acabem a prova por todos.
De imediato e serenamente os Escoceses e os Leões-Marinhos embarcaram nas canoas, não iam cada um nas suas canoas mas ao acaso, Escoceses misturados com Portugueses, pois neste momento todos eles eram uma flotilha. Quando atravessaram em pagaiadas lentas mas determinadas a linha de meta receberam uma tremenda ovação de todos os que tinham vindo assistir à conquista da Pagaia Dourada, recebendo também um forte abraço dos novos campeões a tripulação Peixe-Espada que havia terminado em primeiro lugar, logo seguidos da tripulação Delfim e das Chilenas da Pinguim – Imperador. Claro está que todas as tripulações queriam ganhar a Pagaia Dourada, mas só uma o conseguira; na cabeça dos Leões e dos Escoceses não estava qualquer tristeza por não terem conseguido, na verdade eles tinham conseguido ganhar tudo o que a Pagai a representava a Coragem, Inter-ajuda e Fraternidade ao pararem naquela margem. Chamavam agora todas as tripulações para a cerimónia de atribuição de prémios e os Leões estavam tão alegres como os Ucranianos do Peixe-Espada.


Não percam o último episódio........em Julho, durante o encerramento do ano escutista ou transcrito aqui.